"Há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto"

sábado, 10 de setembro de 2011


Classe média faz fila para conseguir vaga em escolas públicas de BHPais dizem que Umeis têm mais atrativos que instituições particulares

Publicação: 10/09/2011 06:00 Atualização: 10/09/2011 08:10

Crianças se divertem no parquinho da Umei Vila Conceição (Unidade Municipal de Educação Infantil Vila Conceição), localizada no Aglomerado da Serra (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Crianças se divertem no parquinho da Umei Vila Conceição (Unidade Municipal de Educação Infantil Vila Conceição), localizada no Aglomerado da Serra
Depois de anos reclusa aos colégios particulares, a classe média de Belo Horizonte ensaia uma volta dos filhos aos bancos da escola pública. Mais especificamente aos banquinhos do jardim de infância monitorados pela rede municipal de ensino, as unidades municipais de educação infantil (Umeis), que atendem alunos de 0 a 6 anos. As unidades foram construídas a partir de 2003, com projeto arquitetônico pensado para a criança. A proposta pedagógica também é um diferencial. Foi inspirada na Reggio Emilia, da Itália, referência internacional de educação infantil. E tem mais: nenhum aluno precisa levar lanche de casa nem mesmo uniforme ou mochila, que são fornecidos pela escola. Todas as características são os atrativos que estão levando pais a desistirem de escolas particulares e correrem atrás de uma vaga no ensino público. Algumas Umeis contam ainda com aulas de computador, inglês e francês. Tudo isso sem precisar pagar mensalidades entre R$ 350 e R$ 750, média de preços no mercado nas escolas infantis da capital. 

O contingente é de cerca de 9 mil pais fazendo fila para esperar hoje por uma vaga nas 61 Umeis de BH, que estão com inscrições abertas até o dia 30. Desse total, 31% das famílias recebem salários na faixa de R$ 1.126 a R$ 4.428 por mês e 1% mais de R$ 4.428 mensais, ou seja, encaixam-se, respectivamente, no conceito de classe média brasileira ou classe média alta definido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro. Mas apenas 10% das vagas podem ser preenchidas por essa faixa. O restante é voltado para moradores ou trabalhadores do entorno da escola e, principalmente, ao público vulnerável financeiramente, que tem 70% de prioridade. 
Bárbara mora no Gutierrez e tenta uma vaga para a filha na Umei Timbiras (euler júnior/EM/D.A Press)
Bárbara mora no Gutierrez e tenta uma vaga para a filha na Umei Timbiras
“Só rezando para conseguir vaga na Umei Timbiras (no Centro), porque é muito difícil e é por sorteio”, desabafa Bárbara Almeida, de 24 anos, dentista e moradora do Bairro Gutierrez. Mãe de Alice, de 6 meses, ela paga R$ 520 para deixar a filha na escolinha do bairro e já sonha em economizar o valor para investir em uma especialização em sua profissão. “Tive a indicação de uma amiga de dentro da prefeitura, que garantiu que a Umei era superconfiável. Consultei a proposta pedagógica na internet e gostei bastante. Além disso não existe estrutura física melhor do que essa em nenhuma escola particular”, compara a dentista, que já planeja como será o transporte da filha para a possível nova escola.

Insuficiente

“Estou sempre sendo chamada lá em cima para levar pito”, revela, sem esconder o sorriso maroto, Mayrce Terezinha da Silva Freitas, gerente de coordenação da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (Smed). “Eles reclamam que inauguram Umeis, mas o número nunca é suficiente, pois as crianças brotam como flor. Mas não tem jeito, os pais percebem a seriedade do tratamento”, afirma ela, exibindo com orgulho as agendas distribuídas aos pais, o kit de livros e brinquedos pedagógicos que os alunos levam para casa. “Não estou brincando. Os pais chegam para a gente e dizem que não acreditam que exista uma instituição como a nossa”, completa. 

Quase 80% dos professores das Umeis são formados em curso superior e 100% deles têm pelo menos o antigo curso normal ou diploma de magistério. Em uma sala de berçário, por exemplo, há uma professora e uma auxiliar de nível técnico, que ajuda a trocar fraldas, dar mamadeiras ou banhos nos bebês. Na Umei dentro da Pedreira Prado Lopes, uma das regiões de maior vulnerabilidade de BH, os alunos, em sua maioria carentes, são cuidados pela melhor professora do país. No ano passado, a educadora Sílvia Ulisses ganhou o prêmio nacional de Professor Nota Dez da Fundação Victor Civita pelo trabalho com crianças de 0 a 3 anos. Entre outros, Sílvia Ulisses costurou e bordou um tapete sensorial com restos de pano, chocalhos, escovas de cabelo e outros retalhos. “Ela tem um olhar sensível e consegue ver a criança como um ser humano. A maioria das professoras das crianças dessa idade estão preocupadas só com os cuidados, não se preocupam em ensinar as sensações de ouvir música, os gostos e texturas variadas de uma fruta, em sair com as crianças para dar um passeio dentro da escola. A Sílvia é diferente”, afirma a vice-diretora Patrícia Moulin Mendonça.